Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de novembro, 2020

A verdadeira história da perna cabeluda - Raimundo Carrero

ROMANCE POLICIAL O repórter apressado, nervoso, entrou na redação do jornal. Colocou o papel na máquina, mas estava de tal forma agitado, que não sabia como escrever. Percebendo sua indecisão, o editor procurou saber o que estava acontecendo. Gago, voz presa na garganta, precisou de alguns segundos, ainda, para ordenar as palavras. “A perna cabeluda está em Olinda”, disse, esperando a reação do chefe. Uma pessoa fora agredida, levara três pernadas no pescoço, uma na barriga, sangrando fora socorrida por populares e estava, agora, no Hospital da Restauração. E não fora a única. Invadira também a residência de uma bela moça, não respeitara pai nem mãe, com uma rasteira derrubou-a, ali mesmo, no meio da sala, diante dos olhos estarrecidos da família, que não sabia como reagir, praticou agressões. A perna cabeluda Foi um corre-corre na rua, gente chamando a polícia, mulher chorando abraçada com o marido, irmãos e parentes, as mais piedosas e religiosas rezando nos pés dos santuários. A pob

Comadre Fulozinha ou Florzinha

Uma das criaturas mais curiosas do  folclore brasileiro  também é uma das menos conhecidas pelo grande público. Diferente do Saci-Pererê, Mula Sem Cabeça, Curupira ou Boto-cor-de-rosa, a Comadre Fulozinha é mais popular no Nordeste do Brasil e atua como uma guardiã das florestas. Fulozinha habita na Zona da Mata de Pernambuco, — mas, por vezes, pode ser vista em regiões próximas. Destemida protetora dos animais e da natureza, a entidade se assemelha com a Caipora, porém fica furiosa quando confundida com a outra assombração das matas. A versão mais conhecida da Comadre a descreve como sendo uma criança, com longos cabelos pretos e uma tendência a travessuras (algumas versões a reproduzem como uma mulher). Seus truques incluem trançar as crinas de cavalos, abrir porteiras de fazendas e desorientar caçadores com seu assobio potente. O assobio, inclusive, é um de seus maiores poderes. Enfático, ele é uma das características mais complexas da Fulozinha. Quem estiver perdido na mata e

A velhinha da Caxangá

A princípio, ela não chama atenção: uma velhinha quieta num ponto de ônibus. É muito magra, ligeiramente encurvada, pele alva, rosto vincado por inúmeras rugas, cabelos brancos arrumados num coque. Sempre com os ombros coberto por um xale sem estampas, veste-se como se estivesse de luto e carrega uma sombrinha escura. Quem diria que essa figura aparentemente frágil poderia deixar em pânico motoristas e pedestres nas noite caladas da Avenida Caxangá? Antes de prosseguir com o relato medonho, cabe falar um pouco da história daquele lugar. O nome vem do Padre Francisco Pereira Lopes Caxangá que, no século XVIII, comprou terras naquela área distante do Centro do Recife e deu início a uma povoação. Em 1843, foi aberto o primeiro trecho da Avenida Caxangá – via que só recebeu calçamento na metade do século XX. Em 1966, foi alargada para se tornar uma das avenidas mais movimentadas da capital pernambucana. Com o passar dos anos, ganhou um trânsito intenso porque se tornou caminho para vár

Conto - A galega do cemitério de Santo Amaro

O Cemitério de Santo Amaro foi inaugurado em 1851 por ordem de Francisco do Rêgo Barros, o Barão da Boa Vista. Com o passar do tempo, os mais abastados também ocuparam espaço na necrópole. As famílias endinheiradas mandaram construir jazigos luxuosos, feitos de mármore, marcados com epitáfios escritos com letras de bronze, decorados com estátuas em tamanho natural. A riqueza desses detalhes transformou o local numa galeria de arte ao ar livre. Lá estão enterrados personagens históricos como Joaquim Nabuco, além de personalidades que se sobressaíram no campo das artes como o compositor Capiba e o cantor Chico Science. O Santo Amaro também é espaço para a devoção a uma criança transformada em santa consagrada pelo povo, sem nunca ter alcançado espaço em qualquer altar. No túmulo da menina sem nome, os fiéis pedem graças e deixam ex-votos quando os pedidos são atendidos. Garantem que ela faz milagre, mas não sabem quem ela foi: a menina enterrada ali foi vítima de um sórdido homicídio e

ASSOMBRAÇÕES DO RECIFE VELHO - Gilberto Freyre

O livro de Gilberto Freyre foi escrito em 1951, quando trabalhava no jornal "A Província". O livro foi construído com três fontes: os arquivos da polícia, com suas notificações de queixas de casas mal-assombradas e fantasmas molestadores; material de cronistas da cidade no período do império; e sua fonte mais rica, os seus fiéis contadores. Observa-se que o folclore brasileiro de assombrações traz diversos bichos (bodes, cabras-cabriolas, mulas sem cabeça, lobisomens, saci-pererê, boitatás, porcos, queixadas, cães ou gatos de olhos de fogo, papa figos, perna cabeluda, mãos de cabelo, entre outros. Já as assombrações do Recife são mais urbanas:  casas mal assombradas, fantasmas, tesouros enterrados, diabos negros, fantasmas do demônio colonizador, entre outras situações urbanas. Uma característica do livro são os personagens, que na sua grande maioria, são personagens da história de Recife e de Pernambuco, podendo citar, a história de Josefina Minha-fé; Barão da Escada (Belm