Livrófilos

 O conto “Pai contra Mãe”, de Machado de Assis, é uma narrativa em terceira pessoa que ocorre no Rio de Janeiro, nos tempos do Império. Becos estreitos, sujeira, miséria, fazem contraponto com a riqueza e a ostentação dos donos de escravos.  O conto é organizado em três partes. A primeira contendo relatos do autor sobre aspectos presentes nas práticas de escravidão, reforçando o lado grotesco desse sistema. A segunda com a inserção da história do casal Cândido e Ana e os conflitos sociais vivenciados por eles. A terceira com a retomada dos aspectos da escravidão, com ênfase na captura da escrava Arminda e na perda de seu filho. O autor mostra a miséria humana através dos dramas paralelos de um pai contra uma mãe, lutando por duas vidas, onde o indivíduo é capaz de aplacar sua consciência, mesmo tendo cometido o maior dos crimes, justificando a troca de uma vida pela outra. Quem quiser conhecer um pouquinho mais sobre a obra, recomendo a live do Professor Diógenes Américo e do Professor

  A vida de Natalie era estável, segura, com um namorado que a amava, uma promoção que tinha acabado de chegar e com sua mãe e avô próximos morando em uma livraria de São Francisco. Tudo isso acaba com um acidente e em que ela perde a mãe e o namorado. Sozinha, com um avô senil e doente e uma livraria cheia de dívidas e caindo aos pedaços, a primeira opção é vender. Porém seu avô, que é o proprietário do imóvel, é totalmente contrário à venda. Após alguns dias em que Natalie estava na livraria, chega o faz-tudo Peach Gallagher, que tinha sido contratado por sua mãe para consertar o que precisava. Peach é o cara dos sonhos da protagonista, mas nem ela, nem ele, conseguem enxergar isso. Enquanto ele trabalha na livraria, os personagens vão se conectando e descobrindo objetos de valor em meio à paredes da livraria. Além de Natalie e Peach, a trama traz alguns personagens cativantes, como a esperta Dorothy Gallagher, filha de Peach, os dedicados funcionários da livraria, Cleo e Bertie e o

  Ladra de Almas mostra os primeiros momentos da ardilosa Mulher-Gato como uma das anti-heroínas mais ambíguas e amadas. Selina é um menina-mulher dura, mas que esconde desejos comuns, normais. Ao iniciar sua trajetória de crimes em busca de vingança, ela esbarra com Luke Fox, defensor de Gotham enquanto Batman está fora, em missão. Das diferenças sociais e realidades distintas nasce um sentimento que molda o destino do livro até seu final. Sarah sabe construir protagonistas determinadas e cheias de nuances e com Selina, Hera Venenosa e Arlequina não seria diferente. Arlequina – que não superou o fim do relacionamento com o Coringa, preso no Asilo Arkhan, traz uma mensagem muito forte sobre o abuso psicológico enfrentado por tantas mulheres e Hera Venenosa é uma vilã preocupada com as questões ambientais e nutrindo um amor platônico. Juntas, elas fazem o que precisam e o que desejam. O livro é cheio de cenas de ação, diversidade racial, abusos psicológicos, homossexualidade e uma pitad

Marianne Messmann está tão cansada de seu casamento sem amor que decidiu acabar com tudo. Numa viagem a Paris, com seu marido, ela se joga da Pont Neuf, mas é resgatada por um desconhecido. No hospital, é abandonada pelo marido e acaba se encantando por uma paisagem de Kerdruc pintada em um azulejo. Saindo o hospital, sem saber o que fazer e totalmente sozinha, decide ir para a Cidade de Kerdruc, na região da Bretanha – França. Chegando à cidade descobre um estilo de vida completamente diferente de tudo o que já viu e viveu em seus 60 anos de vida. E, então, não lhe resta outra alternativa a não ser embarcar em uma jornada de redescobrimento e reinvenção. Quase todos os personagens possuem mais de 60 anos e acho que esse é o ponto alto do livro, já que mostra que não há idade para amar, (re)descobrir-se e (re)reinventar-se e o que importa é viver plenamente. Apesar de ser um romance, o livro traz outros assuntos, como a depressão, o suicídio, abuso psicológico, mas também traz temas ma

Hoje vou falar do livro “A princesa e o Viking” da autora Persephone Vanessa Maria.  O livro conta a história de Aria, romana, que acaba de ser condenada à morte por assassinar seus pais. Ao ser jogada no rio congelado é salva por Kral, um viking, inimigo de seu país e que acaba levando-a para sua terra natal. Lá, Aria ganha uma nova vida, uma família, um exército e a atenção do rei de olhos azuis, mas ela só pensa em se vingar dos verdadeiros assassinos dos seus pais. Será que Aria vai retornar ao seu país e recuperar o seu trono? Quais os mistérios sobre sua origem que estão escondidos nas tradicionais Eddas. O que isso tem a ver com Aria e Kral? E o final foi ótimo, com certeza ficou um gostinho de quero mais. A autora explora muito bem a mitologia nórdica, trazendo nossos velhos conhecidos, como o deus Odin e as Valquírias, sem contar que abordou com muita propriedade a história das lutas dos vikings. A leitura é deliciosa e cativante. Não tem como não se apaixonar por Aria, Kral e

O livro já começa instigante pelo título. Imaginei um livro de terror, policial ou suspense, mas ao iniciar a leitura percebi que o tema era muito mais complexo e polêmico. Um grupo de amigos, em uma noite de inverno, falavam sobre o falecimento de uma pessoa próxima de Fernando. Augusto, tomado pela emoção, pede aos demais que interrompam o seu sofrimento, lhe tirando a vida, caso um dia seja necessário. Tal ideia, na ocasião, não foi levada a sério. No entanto, sem terem percebido, criaram o Clube da Morte. Então, alguns anos depois, um dos membros chama Augusto para que este dê fim à sua vida. O autor consegue tratar o assunto de forma magistral. O livro traz alguns questionamentos sobre a eutanásia: será que temos o direito de decidir quando vamos morrer? Existe justificativa para isso? É justo transferir essa decisão para outra pessoa? A narrativa acontece de forma fluída, apesar do tema espinhoso . Não espere que o livro traga respostas ou um posicionamento sobre o tema, ele traz

  O livro “Caim”, escrito por José Saramago, é uma releitura bem-humorada das histórias do Antigo Testamento. Caim, primogênito de Adão e Eva, se dá muito bem com o irmão Abel, até o dia em que o incidente das oferendas ocorre e Caim mata Abel. Neste momento aparece deus (em minúsculo na obra) para castigar Caim pelo assassinato. Só que Caim, muito astuto, não deixa de questionar do porquê estava sendo punido se fora instigado a matar e acusa deus também pelo crime. Sem saída, deus acaba admitindo sua parcela de culpa na morte de Abel, fazendo um acordo com Caim. O acordo consistia no silêncio de Caim sobre a parcela de culpa do Senhor na morte de Abel e, como recompensa, Caim não seria castigado ou morto e nenhum outro homem poderia lhe fazer o mal. Misteriosamente, daquele dia em diante, Caim começa a viajar através do tempo - sem uma ordem cronológica em relação aos acontecimentos – indo do presente ao passado, do passado ao futuro, sendo testemunha de vários eventos bíblicos como o

  O mito grego de Prometeu – que roubou o fogo dos deuses e o deu aos homens, sendo por isso punido por Zeus – trata da luta primordial entre pai e filho. Essa luta é o ponto de partida para a interpretação dada pelo psicoterapeuta junguiano Jörg Rasche.  Para ele, a revolta e o amadurecimento do princípio masculino também atinge as mulheres. E só o conhecimento pleno do mito de Prometeu tornará esse fato evidente para todos nós, nos mostrando muitas vezes o motivo de grande conforto em saber que há "sentido" no sofrimento, pois as circunstâncias atormentadoras por que passamos representam as fortes dores de uma fase nova de vida em que vamos ingressar. Uma experiência como essa é uma dádiva, mas só a recebem os que se tornam receptivos a ela. Neste livro o autor, além de nos mostrar a questão da solidão, depressão, sentimentos de culpa, acusações e autoacusações, traz que o mito de Prometeu contém muito mais maravilhas do que a velha história de culpa e redenção. Afinal, Pro