O livro “Caim”, escrito por José Saramago, é uma releitura bem-humorada das histórias do Antigo Testamento.
Caim, primogênito de Adão e Eva, se dá muito bem com o irmão Abel, até o dia em que o incidente das oferendas ocorre e Caim mata Abel. Neste momento aparece deus (em minúsculo na obra) para castigar Caim pelo assassinato. Só que Caim, muito astuto, não deixa de questionar do porquê estava sendo punido se fora instigado a matar e acusa deus também pelo crime. Sem saída, deus acaba admitindo sua parcela de culpa na morte de Abel, fazendo um acordo com Caim. O acordo consistia no silêncio de Caim sobre a parcela de culpa do Senhor na morte de Abel e, como recompensa, Caim não seria castigado ou morto e nenhum outro homem poderia lhe fazer o mal.Misteriosamente, daquele dia em diante, Caim começa a viajar através do tempo - sem uma ordem cronológica em relação aos acontecimentos – indo do presente ao passado, do passado ao futuro, sendo testemunha de vários eventos bíblicos como o sacrifício de Isaac, a torre de babel, a passagem pela cidade de Nod, a destruição de Sodoma e Gomorra e a construção da arca de Noé. Em todos estes eventos o conflito Caim/Deus se faz através do questionamento dos abusos do poder divino, das injustiças desnecessárias e da falta de amor na humanidade, o que só reforça sua imagem do Senhor como um ser egoísta, mimado e que não se furta de dispender várias vidas humanas para provar um ponto ou porque assim o resolveu.
Os personagens são engraçados e os diálogos te farão rir alto, mas alerto que algumas pessoas podem se ofender com a visão do Deus do Antigo Testamento partilhada por Saramago.
Se você não considerar estes questionamentos ofensivos, a leitura é uma excelente oportunidade para refletir, divertir-se e conhecer um pouco mais sobre o pensamento e o estilo do autor laureado com o Prêmio Nobel de Literatura de 1998 e o Prêmio Camões, maior prêmio de literatura em língua portuguesa, no ano de 1995.
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