Durante 55 anos o primeiro manuscrito de “O Sol É Para
Todos”, antes recusado pela editora, esteve guardado em um cofre. Em 2015 foi
publicado “Go Set a Watchman”, que no Brasil recebeu o nome de “Vá, Coloque um
Vigia”.
A
autora Harper Lee, utiliza os mesmos personagens e a mesma cidade para criar um romance
sobre amadurecimento que também explora temas de racismo, pobreza e opressão,
mas “Vá, coloque um Vigia” ainda se destaca de “O Sol é para Todos” de várias
maneiras. Por um lado, a narrativa é completamente diferente. Em vez de ver os
horrores do racismo através dos olhos da narradora infantil Scout Finch, como em
“O Sol é para Todos”, nós os vemos através dos olhos da Scout de 26 anos.
Maycomb County - Alabama ainda está no
centro da narrativa, embora em vez de ser ambientado durante a Era da Depressão,
como “O Sol é para todos” foi, a ação ocorre duas décadas depois, no início do
que se tornaria o Movimento dos Direitos Civis.
O
que mais gostei no romance foi o conflito interno que Scout experimenta,
enquanto luta para conciliar em sua própria mente o condado de Maycomb que ela
conheceu quando criança com a realidade do que ela vê quando retorna à sua
cidade natal para uma visita - uma cidade que agora está cheia de ódio, racismo
e retórica pró-segregação. Por mais ferozmente independente e forte que ela
pareça ser, quando Scout vê seu pai, Atticus, e seu namorado, Hank, também se
envolvendo em tal comportamento, seu mundo é compreensivelmente abalado. É
angustiante vê-la lutar com a ideia de que o pai que ela adorou como herói
durante toda a sua vida pode realmente apoiar tais visões racistas atrozes.
Enquanto ela tenta aceitar essa realidade, Jean Louise aprende a dolorosa lição
de que somos todos apenas humanos e que, se você tentar colocar alguém em um
pedestal muito alto, eles certamente cairão e o desapontarão. Esse conflito
adiciona uma camada de complexidade e profundidade à história e a torna um
pouco mais ousada do que “O sol é para todos”. É enquanto ela lida com esta
lição que o leitor é apresentado a alguns dos meus momentos favoritos do
romance: os flashbacks nostálgicos da jovem Scout e suas travessuras de
infância em Maycomb. Escrito de forma tão vívida, esses flashbacks quase se
tornam uma história por si só e é fácil ver por que o editor da autora sugeriu
que ela explorasse mais essas infâncias em “O Sol é para Todos”.
Apesar
de ser um excelente livro, ainda bem que foi recusado pelo editor, caso
contrário não teríamos conhecido “O Sol é para todos”.
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