É sempre um prazer conhecer uma nova autora brasileira e hoje vou falar sobre o livro “Essa fase não vai passar”, da Raquel Linhares.
O livro conta a história de Amália, uma mulher bem resolvida, determinada, independente que sem perceber, se vê num relacionamento abusivo.
Foi muito triste ver a evolução do abuso. No começo Amália não consegue entender o abuso que sofre, já que foi sutil. As primeiras violências foram a psicológica e financeira, depois a culpa. Essas são muito mais sutis que a agressão física e, por isso mesmo, mais difíceis de identificar.
Como Amália, é muito comum as mulheres entrarem nessas relações e não conseguirem entender o que está acontecendo e começarem a sentir culpa. Começam a achar que exageraram num comentário, que não foram compreensivas já que ele estava nervoso, cansado, com problemas no trabalho ou que ele estava alterado por causa do consumo do álcool, entre tantas outras desculpas, até acharem que tudo é fase e que logo vai acabar, mas, infelizmente, “Essa fase não vai passar”.
Apesar do tema forte, atual e muitas vezes tão próximo de nós, a Raquel conseguiu contar a história da Amália com leveza, fazendo com que você perceba as manipulações desse tipo de relacionamento, e quando você acha que a história acabou, você leva um chute no estômago, sendo surpreendido com o desfecho da história.
Achei o nome do livro muito sutil. Ele tem duas perspectivas: no começo da história eu achei que era uma e só no meio é que entendi o motivo do título. As duas trazem grandes reflexões.
Parabéns Raquel, pela coragem de contar a história de Amália. Por mais Raqueis e Amálias. Elas não estão sozinhas. “Não importa o que te fizeram acreditar, a culpa não é sua” e, SIM.... “Essa fase vai passar”.
É interessante que os abusadores são estrategistas e, antes de se aproximarem das vítimas, já fizeram o registro de todos os seus gatilhos emocionais e, sempre que for necessário, irão ativá-los para levá-las ao descontrole público, instigando reações abusivas diante de terceiros. É uma atitude premeditada, para provar que o outro é o abusivo, o culpado da relação. Para abusadores, as vítimas não tem o direito de reclamar, de reagir, de gritar; se o fizerem serão acusadas de injustas, mimadas, ciumentas, “difíceis de lidar”, malucas ou “cricris”. Muitas continuam na situação porque seguem as regras sociais impostas e acham que aquele é seu lugar - e que não há espaço para questionamento ou confronto.
Mais triste ainda é perceber que existem mulheres que apoiam as atitudes dos abusadores, por serem amigos, irmãos, filhos, jogando a culpa pelo abuso às mulheres.
Nunca é fácil reconhecer que você sofreu ou sofre um relacionamento abusivo, é difícil dar nome, afirmar “estou num relacionamento abusivo”, contar para um amigo, publicar numa rede social, pedir ajuda. Mais difícil ainda é denunciar, mas são exatamente esses caminhos que ajudam você entender esse processo e sair dessa fase.
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