Resenha:
O Estrangeiro - Albert Camus
O
romance "O Estrangeiro", de Albert Camus, retrata a atípica
trajetória de Meursault, protagonista do livro. Amparado em filosofias e
dilemas existencialistas, o autor desenvolve um personagem que é movido por
experiências sensoriais e não por sentimentos valorizados e impostos pela
sociedade. Ele condena todos os valores morais e vive uma vida baseada na
verdade, sem qualquer mascaramento de seus sentimentos.
A
mãe do protagonista, que mora em um asilo, morre logo no início do livro. Ele
vai enterrar a mãe, mas se mostra como um personagem entediado pela vida
cotidiana e nem a morte de sua mãe parece lhe provocar emoções, tanto que no
funeral ele não derrama uma lágrima. Depois desse evento, ele volta para sua
vida normal: vendo a garota que gosta dele (será que ele gostava dela?),
ouvindo um dos seus vizinhos xingar e espancar o cachorro sardento.
Certo
dia, convidado pelo vizinho, vai passar um dia na praia e acaba praticando um
homicídio contra um árabe. Meursault vai preso e descreve a rotina da cadeia, que
não é muito diferente de sua vida fora da prisão.
Depois
de muitos julgamentos, ele é sentenciado à pena de morte. Condenado não porque matou o árabe, mas
condenado porque não chorou no enterro de sua mãe.
Mesmo
condenado, sente-se livre. Este é o grande diferencial de sua personalidade,
não importam as circunstâncias que ele vivia, ele era ele mesmo, sem mascarar a
verdade de seus sentimentos. Ele vivia o presente e não se importava em seguir
padrões morais, tornando-o livre.
Sobre o Autor:
Albert Camus foi um admirado escritor, jornalista e dramaturgo de origem argelina. Ficou conhecido por agregar reflexões existencialistas em suas publicações. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1957 pelo conjunto de sua obra.
Nascido durante a ocupação francesa em
Dréan (antiga Mondovi) na Argélia no dia 7 de novembro de 1913, Camus era
filho de camponeses e perdeu seu pai quando tinha apenas um ano. Cresceu
enfrentando privações e pobreza, enquanto paralelamente nutria uma grande
paixão por futebol. Conseguiu seguir seus estudos e concluir licenciatura e
doutorado em Filosofia.
Foi impedido de lecionar pela tuberculose que contraiu em 1930. Em busca de curar sua condição pulmonar saiu em viagem à Europa, de onde viriam as inspirações de suas futuras primeiras obras, as coletâneas “O Avesso e o Direito” de 1937 e “Noces” de 1939.
Em 1934 passou a integrar o Partido
Comunista Francês e também o Partido do Povo da Argélia, escrevendo para
jornais revolucionários. Camus era um entusiasta do teatro e fundou a companhia
L’Equipe, onde atuava como ator e diretor. Algumas das peças que montou foram
censuradas, como a “Revolta das Astúrias” em 1936.
Em 1938 mudou-se para a França, onde
estreitou relações com o filósofo Jean-Paul Sartre e juntos fundaram o jornal
de esquerda “Combat” em 1941. No ano de 1942, em plena segunda Guerra Mundial, Albert
Camus publica duas das suas mais importes obras: O romance “O Estrangeiro” e o
ensaio “O Mito de Sísifo”.
Duas peças suas fizeram sucesso depois da
libertação do regime nazista: “O Mal Entendido” (1944) e “Calígula” (1945).
Em todas essas obras, Albert Camus
apresenta uma visão desesperançada e niilista da condição humana.
Entre os dias
5 e 7 de agosto de 1949, em visita ao Brasil, Camus foi até Iguape, conhecer
a festa em louvor do Senhor Bom Jesus de Iguape, acompanhado de Oswald de
Andrade, Paul Silvestre (adido cultural francês) e Rudá de Andrade (filho de
Oswald de Andrade). Dessa visita surgiu o conto intitulado La Pierre
qui pousse (A Pedra que brota), em seu livro "O Exílio e o
Reino", sobre um engenheiro francês d'Arrast em passagem por Iguape.
Albert Camus morreu em janeiro de 1960 em um acidente de carro.
5 Curiosidades do Autor – Fonte: Livraria Bertrand (https://www.bertrand.pt/evento/5-curiosidades-sobre-albert-camus/159933)
1. ANTES DA FILOSOFIA, O FUTEBOL
Conta-se que
quando questionado sobre se preferia o teatro ou o futebol, Albert
Camus respondeu sem hesitação – o futebol. Durante os
tempos de universidade na Argélia, jogou como guarda-redes na equipa Racing
Universitaire Algerios (RUA) , mas uma tuberculose
obrigou-o a desistir aos 17 anos. Ainda assim, foi com este desporto que
aprendeu alguns dos ensinamentos mais importantes que guardou para a vida,
tendo mesmo afirmado que tudo o que sabia sobre moralidade e as obrigações dos
homens, devia-o ao futebol.
Foi
depois da doença que o impediu de jogar que se iniciou na filosofia, e também
aqui as lições de resiliência que aprendeu nos seus anos como guarda-redes lhe
foram úteis. Acerca disso, afirmou: “Aprendi que uma bola nunca vem
da direção que estamos à espera. Isso ajudou-me na vida, mais tarde.”
2. O
CLÁSSICO DE UM SÉCULO
As
frases que iniciam a sua obra-prima são, talvez, duas das mais
perturbadoras frases que já iniciaram um livro: “Hoje, a minha mãe morreu. Ou
talvez ontem, não sei bem”. Mais do que as reflexões da
personagem de Mersault acerca da morte da sua mãe, O Estrangeiro é
uma exploração das inquietações de Camus acerca do absurdo da vida e do sentido
da existência. Publicado em 1942, o livro é sintomático de uma época marcada
pela guerra e pela incerteza, sendo talvez por essa razão que o jornal francês Le
Monde o colocou em primeiro lugar na sua lista de 100 livros
do século.
O seu editor
foi o poeta André Malraux , contudo o
livro quase não viu a luz do dia devido à escassez de papel que ocorreu em
França durante a ocupação pela Alemanha Nazi. Malraux chegou mesmo a pedir a
Camus que enviasse papel do seu país Natal, Argélia, de modo a conseguir
publicar o livro.
Tendo começado
por 4.000 cópias, tornar-se- ia um dos livros franceses mais vendidos do mundo.
Com 10 milhões de cópias vendidas no século XX, é ultrapassado apenas pelo
clássico infanto-juvenil O Principezinho .
Por duas vezes, foi adaptado ao cinema – uma pelo realizador italiano Luchino
Visconti e outra pelo realizador russo Zeki
Demirkubuz .
3. CAMUS,
O DON JUAN
Para
além da literatura, do futebol e da filosofia, a outra obsessão de Albert Camus
era com o sexo oposto. Embora tenha casado (duas vezes) e tido dois filhos com
a sua segunda mulher, a matemática e pianista Francine Faure ,
Camus era conhecido por ter várias relações extraconjugais. O seu primeiro
casamento durou apenas dois anos e o segundo, embora tenha sido mais longo,
terminou com a sua mulher a ter um esgotamento nervoso devido à natureza
libertária de Camus. Este episódio serviu de inspiração para o livro A Queda (1956),
escrito como uma confissão de um reputado advogado parisiense que entra em
crise após ter falhado em salvar uma mulher de se afogar.
Alegadamente,
a inspiração para a mulher afogada, Francine, disse a Camus que ele lhe devia
esse livro, depois de anos a criar os seus dois filhos e a tolerar os seus
inúmeros casos, algo com que Camus parece ter concordado.
Um dos seus casos mais célebres foi
com a atriz espanhola, internacionalmente famosa, Maria
Casares , com quem manteve uma relação 13 anos. Durante
esse tempo, trocaram mais de 860 cartas apaixonadas, que foram publicadas pela
editora francesa Gallimard ,
em 2018, num volume com 1.297 páginas.
4. A
RIVALIDADE COM SARTRE
Sendo
duas das maiores figuras da literatura e da filosofia francesa do século XX, é
natural que os caminhos de Albert Camus e Jean-Paul Sartre se
tenham cruzado. Embora só se tenham tornado próximos depois da Segunda Guerra
Mundial, os dois partilhavam, desde o início, várias semelhanças que levavam a
uma comparação incessante entre ambos. Para além de serem os dois romancistas,
ensaístas e filósofos, publicavam com a mesma editora e foram ambos
reconhecidos com o Prémio Nobel da Literatura (Albert Camus em 1957 e Sartre em
1964). Embora Sartre o tenha rejeitado, sentiu-se na obrigação de justificar
que a razão que o levou a fazê-lo não se prendeu com o facto de o seu adversário ,
Camus, o ter recebido antes de si.
As
suas diferenças começam, desde logo, no contexto social em que cada um cresceu:
Camus cresceu na pobreza nos bairros operários da Argélia, enquanto Sartre
pertencia à alta sociedade francesa.
Para além disso, diz-se que Sartre se
ressentia pela aparência charmosa de Camus, que atraía muita atenção feminina.
A um nível mais intelectual, o debate Camus-Sartre prendia-se com as opiniões,
frequentemente opostas, que cada um deles partilhava nos jornais que dirigiam
(o Combat ,
de Camus, e o Les Temps Modernes ,
de Sartre). Embora Camus fosse 7 anos mais novo, morreu 20 anos antes de Sartre.
5. UMA MORTE IDIOTA
Dias
antes de falecer num acidente de automóvel, a 4 de janeiro de 1960, Albert
Camus pronunciou-se acerca da morte do ciclista italiano Fausto
Coppi dizendo: “ Morrer num automóvel é uma
morte idiota “. O autor viajava no lugar do passageiro com o
seu editor, Michel Gallimard , quando
este se despistou e conduziu o carro contra uma árvore, na cidade francesa de
Villeblevin. Embora tenha sido considerado um acidente, existem teorias de que
o despiste tenha sido engendrado por espiões soviéticos, devido a um artigo que
Camus escreveu sobre o Ministro de Negócios Estrangeiros soviético da altura, Dmitri
Shepilov .
Inicialmente,
era intenção de Camus ter viajado de comboio com a sua mulher e filhos mas, à
última hora, aceitou o convite do seu editor (que morreu cinco dias depois,
devido ao acidente) para fazer a viagem de carro. Camus tinha apenas 46 anos e,
no seu bolso, quando morreu, estava o bilhete de comboio que nunca chegou a ser
utilizado. Para além disso, a polícia encontrou o manuscrito inacabado do livro O Primeiro Homem ,
sobre a sua infância na Argélia, que foi publicado em português pela editora Livros
do Brasil , em 2018. Camus acreditava que esta seria a sua
melhor obra.
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