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O Estrangeiro - Albert Camus

Resenha: O Estrangeiro - Albert Camus

 

O romance "O Estrangeiro", de Albert Camus, retrata a atípica trajetória de Meursault, protagonista do livro. Amparado em filosofias e dilemas existencialistas, o autor desenvolve um personagem que é movido por experiências sensoriais e não por sentimentos valorizados e impostos pela sociedade. Ele condena todos os valores morais e vive uma vida baseada na verdade, sem qualquer mascaramento de seus sentimentos.

A mãe do protagonista, que mora em um asilo, morre logo no início do livro. Ele vai enterrar a mãe, mas se mostra como um personagem entediado pela vida cotidiana e nem a morte de sua mãe parece lhe provocar emoções, tanto que no funeral ele não derrama uma lágrima. Depois desse evento, ele volta para sua vida normal: vendo a garota que gosta dele (será que ele gostava dela?), ouvindo um dos seus vizinhos xingar e espancar o cachorro sardento.

Certo dia, convidado pelo vizinho, vai passar um dia na praia e acaba praticando um homicídio contra um árabe. Meursault vai preso e descreve a rotina da cadeia, que não é muito diferente de sua vida fora da prisão.

Depois de muitos julgamentos, ele é sentenciado à pena de morte.  Condenado não porque matou o árabe, mas condenado porque não chorou no enterro de sua mãe.

Mesmo condenado, sente-se livre. Este é o grande diferencial de sua personalidade, não importam as circunstâncias que ele vivia, ele era ele mesmo, sem mascarar a verdade de seus sentimentos. Ele vivia o presente e não se importava em seguir padrões morais, tornando-o livre.

 Quem quiser assistir uma adaptação do livro super indico o filmeO Estrangeiro” do Diretor Luchino Visconti, de 1967. O filme é bem fiel ao livro. E ainda aprecia a bela interpretação de Marcello Mastroianni como Meursault. O filme está disponível no Youtube.


Sobre o Autor:

Albert Camus foi um admirado escritor, jornalista e dramaturgo de origem argelina. Ficou conhecido por agregar reflexões existencialistas em suas publicações. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1957 pelo conjunto de sua obra.

Nascido durante a ocupação francesa em Dréan (antiga Mondovi) na Argélia no dia 7 de novembro de 1913, Camus era filho de camponeses e perdeu seu pai quando tinha apenas um ano. Cresceu enfrentando privações e pobreza, enquanto paralelamente nutria uma grande paixão por futebol. Conseguiu seguir seus estudos e concluir licenciatura e doutorado em Filosofia.

Foi impedido de lecionar pela tuberculose que contraiu em 1930. Em busca de curar sua condição pulmonar saiu em viagem à Europa, de onde viriam as inspirações de suas futuras primeiras obras, as coletâneas “O Avesso e o Direito” de 1937 e “Noces” de 1939.

Em 1934 passou a integrar o Partido Comunista Francês e também o Partido do Povo da Argélia, escrevendo para jornais revolucionários. Camus era um entusiasta do teatro e fundou a companhia L’Equipe, onde atuava como ator e diretor. Algumas das peças que montou foram censuradas, como a “Revolta das Astúrias” em 1936.

Em 1938 mudou-se para a França, onde estreitou relações com o filósofo Jean-Paul Sartre e juntos fundaram o jornal de esquerda “Combat” em 1941. No ano de 1942, em plena segunda Guerra Mundial, Albert Camus publica duas das suas mais importes obras: O romance “O Estrangeiro” e o ensaio “O Mito de Sísifo”.

Duas peças suas fizeram sucesso depois da libertação do regime nazista: “O Mal Entendido” (1944) e “Calígula” (1945).

Em todas essas obras, Albert Camus apresenta uma visão desesperançada e niilista da condição humana.

Entre os dias 5 e 7 de agosto de 1949, em visita ao Brasil, Camus foi até Iguape, conhecer a festa em louvor do Senhor Bom Jesus de Iguape, acompanhado de Oswald de Andrade, Paul Silvestre (adido cultural francês) e Rudá de Andrade (filho de Oswald de Andrade). Dessa visita surgiu o conto intitulado La Pierre qui pousse (A Pedra que brota), em seu livro "O Exílio e o Reino", sobre um engenheiro francês d'Arrast em passagem por Iguape.

Albert Camus morreu em janeiro de 1960 em um acidente de carro.

 

5 Curiosidades do Autor – Fonte: Livraria Bertrand (https://www.bertrand.pt/evento/5-curiosidades-sobre-albert-camus/159933)

 

1. ANTES DA FILOSOFIA, O FUTEBOL

Conta-se que quando questionado sobre se preferia o teatro ou o futebol, Albert Camus respondeu sem hesitação – o futebol. Durante os tempos de universidade na Argélia, jogou como guarda-redes na equipa Racing Universitaire Algerios (RUA) , mas  uma tuberculose obrigou-o a desistir aos 17 anos. Ainda assim, foi com este desporto que aprendeu alguns dos ensinamentos mais importantes que guardou para a vida, tendo mesmo afirmado que tudo o que sabia sobre moralidade e as obrigações dos homens, devia-o ao futebol.

Foi depois da doença que o impediu de jogar que se iniciou na filosofia, e também aqui as lições de resiliência que aprendeu nos seus anos como guarda-redes lhe foram úteis. Acerca disso, afirmou: “Aprendi que uma bola nunca vem da direção que estamos à espera. Isso ajudou-me na vida, mais tarde.” 

 

2. O CLÁSSICO DE UM SÉCULO

 

As frases que iniciam a sua obra-prima são, talvez, duas das mais perturbadoras frases que já iniciaram um livro: “Hoje, a minha mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem”. Mais do que as reflexões da  personagem de Mersault acerca da morte da sua mãe, O Estrangeiro é uma exploração das inquietações de Camus acerca do absurdo da vida e do sentido da existência. Publicado em 1942, o livro é sintomático de uma época marcada pela guerra e pela incerteza, sendo talvez por essa razão que o jornal francês Le Monde o colocou em primeiro lugar na sua lista de 100 livros do século.

 

O seu editor foi o poeta André Malraux , contudo o livro quase não viu a luz do dia devido à escassez de papel que ocorreu em França durante a ocupação pela Alemanha Nazi. Malraux chegou mesmo a pedir a Camus que enviasse papel do seu país Natal, Argélia, de modo a conseguir publicar o livro.

 

Tendo começado por 4.000 cópias, tornar-se- ia um dos livros franceses mais vendidos do mundo. Com 10 milhões de cópias vendidas no século XX, é ultrapassado apenas pelo clássico infanto-juvenil  O Principezinho . Por duas vezes, foi adaptado ao cinema – uma pelo realizador italiano Luchino Visconti e outra pelo realizador russo Zeki Demirkubuz .

 

3. CAMUS, O DON JUAN

 

Para além da literatura, do futebol e da filosofia, a outra obsessão de Albert Camus era com o sexo oposto. Embora tenha casado (duas vezes) e tido dois filhos com a sua segunda mulher, a matemática e pianista Francine Faure , Camus era conhecido por ter várias relações extraconjugais. O seu primeiro casamento durou apenas dois anos e o segundo, embora tenha sido mais longo, terminou com a sua mulher a ter um esgotamento nervoso devido à natureza libertária de Camus. Este episódio serviu de inspiração para o livro Queda (1956), escrito como uma confissão de um reputado advogado parisiense que entra em crise após ter falhado em salvar uma mulher de se afogar.

 

Alegadamente, a inspiração para a mulher afogada, Francine, disse a Camus que ele lhe devia esse livro, depois de anos a criar os seus dois filhos e a tolerar os seus inúmeros casos, algo com que Camus parece ter concordado.

 

Um dos seus casos mais célebres foi com a atriz espanhola, internacionalmente famosa, Maria Casares , com quem manteve uma relação 13 anos. Durante esse tempo, trocaram mais de 860 cartas apaixonadas, que foram publicadas pela editora francesa Gallimard , em 2018, num volume com 1.297 páginas.

 

4. A RIVALIDADE COM SARTRE

 

Sendo duas das maiores figuras da literatura e da filosofia francesa do século XX, é natural que os caminhos de Albert Camus e Jean-Paul Sartre se tenham cruzado. Embora só se tenham tornado próximos depois da Segunda Guerra Mundial, os dois partilhavam, desde o início, várias semelhanças que levavam a uma comparação incessante entre ambos. Para além de serem os dois romancistas, ensaístas e filósofos, publicavam com a mesma editora e foram ambos reconhecidos com o Prémio Nobel da Literatura (Albert Camus em 1957 e Sartre em 1964). Embora Sartre o tenha rejeitado, sentiu-se na obrigação de justificar que a razão que o levou a fazê-lo não se prendeu com o facto de o seu adversário , Camus, o ter recebido antes de si.

 

As suas diferenças começam, desde logo, no contexto social em que cada um cresceu: Camus cresceu na pobreza nos bairros operários da Argélia, enquanto Sartre pertencia à alta sociedade francesa.

Para além disso, diz-se que Sartre se ressentia pela aparência charmosa de Camus, que atraía muita atenção feminina. A um nível mais intelectual, o debate Camus-Sartre prendia-se com as opiniões, frequentemente opostas, que cada um deles partilhava nos jornais que dirigiam (o Combat , de Camus, e o Les Temps Modernes , de Sartre). Embora Camus fosse 7 anos mais novo, morreu 20 anos antes de Sartre.

 

5. UMA MORTE IDIOTA

 

Dias antes de falecer num acidente de automóvel, a 4 de janeiro de 1960, Albert Camus pronunciou-se acerca da morte do ciclista italiano Fausto Coppi dizendo: “ Morrer num automóvel é uma morte idiota “. O autor viajava no lugar do passageiro com o seu editor, Michel Gallimard , quando este se despistou e conduziu o carro contra uma árvore, na cidade francesa de Villeblevin. Embora tenha sido considerado um acidente, existem teorias de que o despiste tenha sido engendrado por espiões soviéticos, devido a um artigo que Camus escreveu sobre o Ministro de Negócios Estrangeiros soviético da altura, Dmitri Shepilov .

Inicialmente, era intenção de Camus ter viajado de comboio com a sua mulher e filhos mas, à última hora, aceitou o convite do seu editor (que morreu cinco dias depois, devido ao acidente) para fazer a viagem de carro. Camus tinha apenas 46 anos e, no seu bolso, quando morreu, estava o bilhete de comboio que nunca chegou a ser utilizado. Para além disso, a polícia encontrou o manuscrito inacabado do livro O Primeiro Homem , sobre a sua infância na Argélia, que foi publicado em português pela editora Livros do Brasil , em 2018. Camus acreditava que esta seria a sua melhor obra.

 

 Texto: Rita

Instagram - @livrofilos




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