As Intermitências da Morte
Autor - José Saramago
Resenha:
Cansada de ser detestada pela humanidade, a ossuda resolve suspender suas atividades. De repente, num certo país fabuloso, as pessoas simplesmente param de morrer. E o que no início provoca um verdadeiro clamor patriótico, logo se revela um grave problema. Um por um, ficam expostos os vínculos que ligam o Estado, as religiões e o cotidiano à mortalidade comum de todos os cidadãos. Mas, na sua intermitência, a morte pode a qualquer momento retomar os afazeres de sempre.
A primeira parte do livro traz o universo da suspensão das atividades da morte (morte com letra minúscula, como ela mesmo fará questão de ser tratada). A bagunça daquele país que se vê à beira do colapso geral porque ninguém morre é um delicioso convite a pertinentes questionamentos contemporâneos. A falência das empresas funerárias e das seguradoras, o desespero da Igreja pela extinção das ressurreições, o surgimento de um poder paralelo criminoso, a impotência do rei e seus governantes diante de uma força realmente mais poderosa que seus cargos e a tensa relação do país com as áreas limítrofes são representações críveis do mundo atual, que flerta diariamente com a barbárie.
A segunda parte começa quando a morte surge como uma personagem, usando foice e tudo mais, comunicando, por meio de carta, que voltará ao trabalho, porém, de outra maneira. E é cumprindo seu novo modus operandi, que a morte é surpreendida por um evento inédito que a levará a meditações sobre a sua própria razão de ser. Um tom filosófico toma conta da narrativa e Saramago afasta as discussões estruturais, para focar num íntimo quase humano de sua protagonista esquelética.
"As intermitências da morte" tem um desfecho maravilhoso, inesperadamente doce e, porque não, romântico.
Para quem quer iniciar no fantástico mundo de Saramago, esta obra é perfeita.
Texto: Rita - Livrófilos
Instagram: @livrofilos
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